“Era uma vez uma senhora velhinha que, há muitos, muitos anos (ainda não havia automóveis nessa altura), se sentava a fazer bonecas de trapo à porta da sua pequena loja de ervas secas. Essa loja ficava junto a um mercado… havia patos, coelhos, galinhas, pombos, peixes de muitas cores, frutas e flores que, juntamente com grandes molhos de cenouras, rabanetes e couves, criavam uma mistura única de sons e cheiros. As crianças não tinham medo de se perder, toda a gente se conhecia e tinha nome. Lisboa parecia mais pequena.”
“Assim, de vez em quando, a manhã era passada junto à D. Carlota (era assim que a senhora velhinha se chamava), a espreitar as bonecas que ela ía fazendo, Depois, conversando, contavam-se os males das bonecas e ela, pouco a pouco, consertava-as…”
Assim nasceu o Hospital das Bonecas – em 1830.
Aqui curam-se dói-dóis de verdade, mas de bonecas! E há magia assim que se passa a porta… Cada boneca é mais linda que a outra! Há loiras, morenas, ruivas, de cabelos lisos, aos caracóis, carecas, com pestanas que parecem ter rímel, com rosetas que barecem de blush, com lábios vermelhos que parecem de baton… com olhares e sorrisos que parecem a qualquer momento ganhar vida e falar connosco! Fizeram com certeza parte de histórias extraordinárias, algumas com várias centenas de anos… algumas com marcas do tempo, como se fossem rugas… umas que se partiram, outras que perderam um olho, um braço, uma perna… com roupas de baile ou roupas de trabalho… umas cantam o fado, outras tocam piano… umas parecem dormir, outras parecem dançar… mas todas nos recebem com uma expressão mágica e nos dizem “olha para mim, sente a minha história, tenho tanto para te contar”!
Foi neste tesouro, que guarda séculos de histórias de vida, que fotografei nos primeiros dias do ano. É incrível o que sente aqui, mesmo de olhos fechados… é como se fossemos transportados para dentro daquelas bonecas e para as suas histórias. E, se fecharmos os olhos e prestarmos muita atenção, quase as ouvimos sussurrar e cantarolar as cantigas das crianças que com elas brincaram… como se dentro de cada boneca estivesse um pedacinho de quem com suas mãos brincou com elas… e é tão bonito de se sentir… tão especial…
Aqui fica a apresentação do trabalho fotográfico que fiz no Hospital de Bonecas. É um trabalho de fotografia conceptual, que une o mundo real ao mundo imaginário, que abre uma porta para um mundo paralelo, onde vivem bonecas. O mundo não tem de ser aquele que os nossos olhos apenas conseguem ver, poder ser também aquele que a nossa imaginação consegue sentir, criar… Tentei passar pela fotografia a “alma das bonecas”, a sua história, dar vida aos seus olhares, às suas expressões… dar-lhes vida… e isso pode, até, ser assustador… é um trabalho que mexe com os nossos medos, as nossas crenças… por momentos somos mesmo transportados para lá…
Se tiverem oportunidade de visitar o Hospital de Bonecas, façam-no! Mesmo! Não tem nada de assustador, muito pelo contrário! E todos temos uma criança dentro de nós, mesmo que nos esqueçamos a maior parte das vezes, e é impossível não sentir vontade de brincar ali! Ninguém fica indiferente à energia de vida daquelas bonecas! E é maravilhoso perceber a evolução de uma boneca até aos dias de hoje, desde o tempo em que eram feitas de cartão até à famosa Barbie.
Obrigada Dª Manuela Cutileira pela oportunidade de fotografar este seu tesouro. Mas, acima de tudo, muito obrigada por partilhá-lo com o mundo!
Obrigada Rute Luísa por tudo o que me ensinaste. Não me ensinaste só fotografia, como se isso fosse pouco! – ensinaste-me sobre mim, sobre o meu EU. Ensinaste-me a observar o mundo que me rodeia de uma forma totalmente nova, mas também o mundo que tenho dentro de mim! Ajudaste-me a sentir o que os meus olhos vêem mesmo quando estão fechados…
Obrigada aos meus colegas do curso de fotografia, pelas suas palavras, críticas fabulosas e menos fabulosas (ahah! não me vou esquecer desta!), pelas partilhas, pelas gargalhadas, pela troca de olhares – todos vemos o mesmo mundo de formas tão diferentes e tão bonitas! Como se houvessem tantos, tantos mundos num só…
Como já dissemos, nada acontece por acaso! Estou muito grata porque a vida nos cruzou!
Obrigada Raquel, por acreditares tanto, mas tanto em mim! Por me incentivares a “ir atrás”. És uma força da Natureza e sinto-me profundamente abençoada por te ter na minha vida!
❤ Obrigada Filha… meu Amor… foste TU que trouxeste a fotografia à minha vida e que, por isso, me proporcionaste tudo isto… És quem mais me ensina, todos todos os dias! ❤
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